Eis a Santa
Escravidão, apresentada pelo próprio punho do Santo Cura D’Ars:
I. A devoção a Maria em geral
Como não há
graças com que Deus nos favorece que não sejam obtidas pela intercessão de
Maria Santíssima, ou, como diz São Bernardo, que não passem pelas suas mãos,
não há também homenagem de respeito que não lhe devamos prestar em testemunho
da nossa gratidão.
É este
princípio a fonte das várias devoções que o Espírito Santo inspira aos santos,
para facilitar aos filhos d’Ela os meios de honrá-la e de consagrar-se a seu
serviço.
A devoção a
Maria Imaculada, dizem os Santos Padres, é um sinal certo de predestinação.
É
impossível, diz Santo Anselmo, que se percam aqueles que Maria Santíssima
protege.
É, pois,
necessário que os seus protegidos sejam justificados e glorificados. Um Santo
Padre diz que mesmo se uma pessoa falasse a língua dos homens e dos anjos,
ser-lhe-ia ainda assim impossível exprimir as vantagens da devoção à Santíssima
Virgem. A eternidade não será longa demais para admirar os bens imensos, que dela
nos veem; mas seu valor fica escondido na terra, e o mundo não o conhece.
Santo
Antônio assegura que toda a espécie de bens lhe chegaram pela devoção à
Santíssima Virgem Maria.
A experiência
de todos os séculos nos ensina, nota um santo autor, que os demônios receiam
decerto os jejuns, as vigílias, as austeridades, as penitências, orações e
esmolas, mas perderam vários que se entregaram a estes santos exercícios;
nunca, porém, chegaram a perder uma alma verdadeiramente devota da Santíssima
Virgem.
É uma
verdade constante que nunca houve um santo que não fosse grande devoto da
Santíssima Virgem; e que não há grande devoto de Maria Santíssima que não seja
santo. Se puser a minha confiança na Santíssima Virgem, diz São João Damasceno,
serei salvo.
São Germano,
Patriarca, nos assevera que a proteção de Nossa Senhora ultrapassa todas as
nossas concepções, de modo que nos é impossível compreender a sua força e
extensão.
São Boaventura,
nos afirma que os que exaltam Maria Santíssima não cairão no inferno, porque há
bens imensos preparados para aqueles que A servem; e tendo em suas mãos a
própria salvação, Ela a concederá a seus servos. É, pois, importantíssimo e
necessário tudo envidar para merecer a sua proteção!
II. A Santa Escravidão
Entre as
santas devoções usadas para honrar a Santíssima Virgem, queridas e adotadas
pelos filhos verdadeiros da Igreja Católica, uma das mais antigas e mais
amorosas é a da Santa Escravidão.
É o resumo
das demais devoções; não há nenhum dos privilégios da Mãe de Jesus que não seja
dignamente honrado por Ela.
Pois a
Santíssima Virgem é maior, a mais elevada e a mais eminente de todas as
criaturas, também as homenagens a Ela prestadas, devem ser as mais submissas, as
mais profundas e as mais humildes de quantas houver depois das que devemos a
Deus.
Ora, como
não há homenagem mais profunda que a abnegação, parece que a Santa Escravidão é
o culto mais apropriado à sua grandeza. Convém
observar que sendo a criação obra exclusiva de Deus e não da Santíssima Virgem,
não podemos confessar-nos criaturas d’Ela, pois esta honra só a Deus cabe.
Como, porém,
Ela é a Mãe d’Aquele que nos retirou da escravidão do demônio, não pode haver
homem que, sem ingratidão, não a reconheça por sua senhora, nem se honre por
ser seu escravo.
Como diz
muito bem São João Damasceno, quando Deus se fez homem para resgatar-nos, pôs
aos pés de sua Mãe todas as criaturas.
Aliás, Maria
Santíssima forneceu a moeda com que se pagou a carne de Jesus Cristo, que é a
carne de Maria: “Caro Christi est caro Mariae”. Por nossa
condição somos, pois, seus servos; devemos também sê-lo por zelo e desejo, pois
esta devoção está fundada sobre o exemplo de Jesus Cristo que para abrigar-nos
a reconhecer a sua Mãe Santíssima como Senhora Nossa quis submeter-se a Ela
durante os trinta primeiros anos de sua vida, como o faz notar o
Evangelho: “Erat subditus illis”.
De fato,
durante todo este tempo, o Salvador vivia sob a autoridade de sua Mãe; e, em
consideração a Ela, quis submeter-se até a São José, por ser este o esposo de
sua Mãe Santíssima.
III. Deveres da Santa Escravidão
A devoção da
Santa Escravidão à Virgem Santíssima outra coisa não é que uma obrigação de
amor e um santo contrato com a Mãe de Jesus, pelo qual alguém se consagra a seu
serviço, proclamando-a Senhora de seu coração, cedendo-lhe o direito que tem
sobre suas próprias obras, dedicando-se inteiramente a Ela, e fazendo-lhe uma
Consagração total de si mesmo.
Esta Mãe de
misericórdia por sua parte obriga-se a ser para os seus escravos tudo o que uma
senhora boa é para seus servos, alcançando-lhe todas as graças necessárias
para, um dia, poderem ir-lhe fazer companhia no céu.
E, como
outrora os escravos traziam sobre si um sinal por que se conheciam os seus
donos, os escravos de Maria Santíssima mandam benzer uma pequena corrente de
prata, ou de qualquer outro metal, para trazê-la a vida inteira, como um sinal
exterior da sua dependência a Maria Santíssima.
“Escutai, — diz o Espírito Santo no Eclesiástico (cap. 4), onde tudo o que é dito
sobre a sabedoria é aplicado a Maria Imaculada pelos Santos Padres — escutai,
meu filho, o sábio conselho que quero dar-vos; não deixeis de estimá-lo: metei
os seus ferros aos pés, seu colar no pescoço, e não vos recuseis a carregar as
suas correntes.
Além disso,
do mesmo modo que os escravos devem a seus senhores um tributo, assim os
escravos da Santíssima Virgem Maria lhe devem um duplo tributo: o primeiro é
pago quando entram na confraria tomando as correntes.
Este tributo
será a devoção de cada um: recitar o ofício, o rosário, dar esmola, ou fazer
uma penitência, oferecer a Nossa Senhora uma vela no seu altar, ou mandar
celebrar uma Santa Missa, etc.
O segundo
tributo consiste em qualquer oraçãozinha conforme a devoção de cada um; por
exemplo: a coroa de Maria Santíssima em honra dos seus doze privilégios, a qual
consta de três Pai-Nossos e doze Ave-Marias; o que se chama o terço da Santa
Escravidão.
Esta oração
é muito agradável a Maria Santíssima e autorizada por muitos milagres e
indulgenciada pelos soberanos Pontífices. Além disso,
é tão curta e fácil, que se pode recitar em poucos minutos e em qualquer tempo
e lugar.
Convém notar
que tudo isso não obriga sob pena de pecado; como diz São Francisco de Sales: os
estatutos e as práticas das confrarias são de conselho e não de preceito.
IV. A Confraria da Santa Escravidão
Para entrar
na confraria é preciso escolher um dia da sua devoção, e, tendo feito uma boa
confissão e Comunhão com intenção de ganhar a indulgência plenária,
apresentar-se ao sacerdote que tenha o poder de admitir na confraria, mandar
benzer as correntinhas é recebê-las das mãos dele.
Pronuncia-se
depois a Consagração à Santíssima Virgem diante de seu altar, com
toda a devoção possível, e inscrever-se-á o nome no livro da confraria da Santa
Escravidão da Santíssima Virgem.
Amarrem-se
as correntinhas no lugar onde se pretende usá-las. Bom seria mandar benzer
também o terço da Santa Escravidão. Os escravos
da Mãe de Jesus devem marcar um dia para celebrarem anualmente o aniversário da
sua entrada na confraria.
Além disso,
há todos os anos uma festa principal que os confrades devem solenizar de modo
particular. A Santa Sé determinou a festa da Anunciação para este fim. Neste
dia, deverão renovar a Consagração e os protestos que fizeram à Mãe de Jesus.
Deverão
confessar-se comungar em ação de graças pelo favor que lhes fez a Santíssima
Virgem recebendo-os como escravos, oferecendo-lhe a boa obra que querem fazer
em honra dela, dizendo:
“Eis, minha
querida Senhora, o humilde tributo que vos ofereço em agradecimento do domínio
que tendes sobre o meu coração, depois de Deus, obtendo-me a graça de ser por
vós recebido no céu, para oferecer-vos um tributo eterno de bênçãos e de
louvores em companhia de todos os santos!”
Todo fiel
servo da Santíssima Virgem deve:
- Ter N’ela uma grande confiança;
- Recorrer a Ela em todas as necessidades;
- Não passar nem um dia sem dirigir-Lhe qualquer oração;
- Confessar-se e comungar nos dias das Suas festas;
- Mostrar a sua devoção diante dos mundanos;
- Fazê-La conhecida e amada pelos outros;
- Levar uma vida digna D’ela pela imitação das suas virtudes, em particular de Seu espírito de fé da sua pureza;
- Ter no quarto ou gabinete uma de Suas imagens ou estátuas para honrá-La;
- Lembrar-se de que o sábado Lhe é consagrado;
- Pedir-Lhe todos os dias a graça da perseverança final.
V. A Antiguidade da Santa Escravidão
A devoção da
Santa Escravidão é tão antiga que se encontra, nas crônicas da cidade de
Saragosa, um monumento autêntico nos seguintes termos: Um dia em que o Apóstolo
São Tiago rezava pela conversão dos Espanhóis e estava prostrado ao lado de uma
coluna de jaspe na qual havia gravado, com o dedo, o sinal da cruz, a Virgem
Santíssima lhe apareceu em cima da coluna, tal uma soberana sobre um trono, e
lhe ordenou que estabelecesse uma devoção em sua honra, que seria a de seus
fiéis escravos.
Não nos
surpreende que se tenha ela espalhado no mundo inteiro, e que tantos reis,
rainhas, príncipes e princesas, Cardeais, Arcebispos, Bispos, gerais de ordens
e tantos santos a tenham abraçado, que Soberanos Pontífices a tenham aprovado e
enriquecido de indulgências!
As grandes
graças que a Virgem Santa tem alcançado para seus escravos, e que diariamente
lhes comunica, demonstram o quanto lhe agrada esta devoção. Sabemos, aliás, que Maria não se deixa vencer em generosidade!
Sou o vosso
servo, ó Virgem Santa, dizia São Boaventura, e o menos dos vossos servos.
Santo
Odilon, abade de Cluny, foi o primeiro que praticou esta devoção. Viveu em
1040, há, pois, mais de 900 anos. Consagrou-se a Maria Santíssima para ser seu
escravo todos os dias da sua vida, como o conta o seu historiador Lofardo.
O
Bem-Aventurado Marin consagrou-se a Maria Santíssima como escravo, desde 1079,
e nos assegura que esta doce Medianeira veio visitá-lo durante a sua última
moléstia e lhe prometeu a felicidade eterna.
O
Bem-Aventurado Vantier de Birbac foi um dos dignos escravos de Maria Imaculada,
a quem esta boa Mãe concedeu grandes favores, como se pode ler em sua vida.
Santa Matilde foi uma devotíssima escrava de Maria Santíssima.
O Venerável
Vicente Carafa, sétimo geral da Companhia de Jesus, trazia ao pé um círculo de
ferro para exprimir a sua escravidão à Santíssima Virgem.
O Pe. João
de Lavalier, ilustre Mártir Jesuíta no México, era igualmente um fervoroso
praticante da Santa Escravidão.
O rei
católico Felipe III, Ladislau, rei da Polônia, Maria, rainha de França, mãe de
Luís XIII, Margarida de Lorena, duquesa de Orleans; o cardeal Infant, o cardeal
de La Guena, o duque de Baviera, Carlos Emanuel, duque de Sabóia com todos os
seus filhos, o cardeal Maurício e o cardeal Bérulle, todas estas augustas e
ilustres personagens ufanaram-se de ser escravos da Santíssima Virgem, e de trazer
sobre si as correntes de ferro que os ligavam a esta Mãe de misericórdia, e de
inscrever os seus nomes entre os associados da Santa Escravidão.
Uma
infinidade de pessoas de todos os estados, sexo, idade e posses imitaram estes
exemplos. Gergório XIII, Urbano VIII, Alexandre VII, Clemente XII concederam
numerosas indulgências em diversas ocasiões, tanto pelas Bulas que consagraram
aos escravos da Bem-aventurada Virgem, como os chama Urbano VII em sua
Bula: “Cum sicut accepimus”, no intuito de aumentar o número das
confrarias e dos escravos. Pois julgava que estes meios são bem apropriados
para se alcançarem as graças da salvação eterna e merecer a proteção tão
necessária desta poderosa Soberana que é a porta do céu: “Janua coeli”.
São
Boaventura exclama: Ó Virgem Santa, aquele que vós amais será salvo, e aquele
que desprezais perecerá para a eternidade.
VI. Razões da Santa Escravidão
Para dar um
último esclarecimento sobre a devoção da Santa Escravidão, direi que nenhum
daqueles que têm a peito a salvação da sua alma deve deixar de entrar nesta
santa confraria, e tornar-se escravo da augusta Mãe de Deus.
Três razões principais devem decidi-los a aderir a esta devoção:
Três razões principais devem decidi-los a aderir a esta devoção:
- Primeiramente, a facilidade que há em recitar a coroa da Santa Escravidão, que consiste em três Pai-Nossos e doze Ave-Marias.
- Segundo, os grandes proveitos que daí promanam: numerosas indulgências, preservação de muitos males e perigos, e participação de tantas boas obras.
- Terceiro, o amor e a devoção que devemos à Santíssima Virgem, de quem tanto precisamos e que alcançará mil graças e benefícios, o perdão e a salvação para os seus devotos fiéis.
Foi revelado
a uma alma do século passado que todos os que se consagram à Santíssima Virgem
como escravos gozarão no céu de uma glória particular.
Como diz Santo Anselmo: “Maria goza de tanto poder perto de Deus, que Ela faz o que quer!”
Como diz Santo Anselmo: “Maria goza de tanto poder perto de Deus, que Ela faz o que quer!”
Ai de nós!
Há pessoas deste mundo que comprometem a sua saúde e se expõem a todos os
perigos por causa de um lucro temporal! Há os que atravessam os mares, arriscam
os seus bens e a sua vida, para alcançar um benefício, embora incerto… E nós
não faríamos nada para salvar a nossa alma, que deve viver eternamente com
Deus?
Se
pensássemos bem nestes termos: eternamente felizes ou eternamente
desgraçados, não nos descuidaríamos dos meios de assegurar-nos uma
felicidade eterna.
VII. Confraria da Santa Escravidão
A revista
francesa donde traduzimos a presente notícias conclui:
Vimos uma senhora piedosa que havia conhecido o santo Cura d’Ars. Por meio dele havia conhecido a sua vocação. Sentia desejos de entrar no convento. O santo Cura lhe declarou que tal não era a vontade de Deus.
Vimos uma senhora piedosa que havia conhecido o santo Cura d’Ars. Por meio dele havia conhecido a sua vocação. Sentia desejos de entrar no convento. O santo Cura lhe declarou que tal não era a vontade de Deus.
A confraria
da escravidão da Mãe de Deus existia em Ars; o santo nela inscreveu a sua
penitente. A fórmula de recepção que se segue e que esta mesma senhora me
entregou vem assinada pela sua própria mão; é, pois, uma prova autêntica da sua
estima e de seu amor para esta forma de devoção.
Conserva esta Consagração como uma relíquia do santo Cura.
Fórmula de recepção
(Na Santa Escravidão da Mãe de Deus)
(Na Santa Escravidão da Mãe de Deus)
Nós, João
Batista Vianney, sacerdote ligado à devota associação da Santa Escravidão da
Imaculada Mãe de Deus, desejando enquanto possível estender a glória desta
Rainha do céu e contribuir para a salvação do próximo, recebemos como membro da
mesma associação… A.D … no dia 12 de janeiro de 1853, e admitimo-la à
participação de todas as graças espirituais, que já foram ou serão concedidas
no futuro a esta confraria, contanto que ela cumpra as obrigações com piedade e
exatidão.
Eu, … A.D.
…no dia 12 de janeiro de 1853 aceito de bom coração as gloriosas correntes que
me ligam para sempre no serviço da amável Virgem, Mãe de Deus, em qualidade de
sua escrava, e tomo a resolução de fazer todas as minhas ações em sua honra e
para a maior glória de Deus.
Fonte de
consulta:
Transcrição das páginas 219 a 227 do livro “O Segredo da Verdadeira Devoção para com a Santíssima Virgem, segundo São Luís Maria Grignion de Montfort, por Pe. Júlio Maria de Lombaerde, S. D. N.. Nihil Obstat Manhumirim, 6 de decembris, 1942, Pe. Dr. José de Castro Censor. Imprimatur Caratingen, 11 februari, 1943 + Joannes Cavati, Episc. Caratingensis. ReimprimaturCaratinga, 13 de maio de 1961 + José Eugenio, Bispo de Caratinga. Co-edição: Edições São Tomás, Fraternidade Arca de Maria, Serviço de Animação Eucarística Mariana.
Transcrição das páginas 219 a 227 do livro “O Segredo da Verdadeira Devoção para com a Santíssima Virgem, segundo São Luís Maria Grignion de Montfort, por Pe. Júlio Maria de Lombaerde, S. D. N.. Nihil Obstat Manhumirim, 6 de decembris, 1942, Pe. Dr. José de Castro Censor. Imprimatur Caratingen, 11 februari, 1943 + Joannes Cavati, Episc. Caratingensis. ReimprimaturCaratinga, 13 de maio de 1961 + José Eugenio, Bispo de Caratinga. Co-edição: Edições São Tomás, Fraternidade Arca de Maria, Serviço de Animação Eucarística Mariana.
Fonte: www.perfeitadevocao.org