João Paulo II.




Espiritualidade Monfortina presente no Beato João Paulo II

A expressão, do latin, “totus tuus” significa todo teu. Esta ficou mais conhecida porque foi o lema do pontificado do saudoso Papa João Paulo II. Ele usou estas palavras como lema por causa da sua particular devoção e consagração a Virgem Maria. Porém, a expressão “totus tuus” tem sua origem nos escritos São Luís Maria Grignion de Montfort e significa a consagração total a Virgem Maria.

São Luís Maria, em seu Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, usa estes termos como fórmula de renovação da consagração: “Tuus totus ego sum, et omnia mea tua sunt”, que quer dizer: “Eu sou todo teu, e tudo o que é meu te pertence”. O Santo recomenda que se renove a consagração pelo menos uma vez por ano, mas esta pode ser feita também uma vez por mês, mediante uma preparação. Porém, pode até mesmo ser renovada todos os dias por estas breves palavras (cf. TVD 233).

A vida de Karol Wojtyla, que depois tornou Papa João Paulo II, é um exemplo excepcional da profundidade do significado destas palavras e da eficácia da consagração a Maria. Sua vida também é um testemunho eloquente daquilo que significa a consagração total a Nossa Senhora. Toda a vida do Beato foi consagrada a Jesus Cristo pelas mãos da Virgem Maria. O brasão com a letra “M” e o seu lema “totus tuus” simbolizam a sua total entrega a Maria. O Santo Padre chegou a afirmar que, principalmente nos momentos mais difíceis e decisivos de sua vida, a consagração a Virgem Maria foi de suma importância.

Desde a sua juventude, Karol Wojtyla nutriu esse amor por Maria. Quanto era ainda seminarista, Karol se consagrou a ela pelo método do Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, de São Luís Maria. Durante toda a sua vida ele esteve unido a Virgem Maria. Enquanto Sacerdote, depois como Bispo e finalmente como Papa João Paulo II, a Mãe do Senhor Jesus esteve sempre presente em suas reflexões teológicas. Os documentos aprovados por João Paulo II tem como característica a sua confiança em Maria.

O Santo Padre não somente se consagrou a Virgem Maria, mas também consagrou o mundo inteiro a ela. No dia 7 de Junho de 1981, Na Basílica de Santa Maria Maior, João Paulo II consagrou o mundo ao Imaculado Coração de Maria. Em sua oração, ele pede a Virgem Maria: “Tomai sob a Vossa proteção materna a inteira família humana que, com enlevo afetuoso, nós Vos confiamos, ó Mãe”. Este homem extraordinário, um grande sinal da bondade e da misericórdia de Deus em nosso tempo, realiza um ato profético ao consagrar a humanidade a Mãe de Deus.

Como filhos espirituais deste grande homem que foi o Papa João Paulo II, somos chamados também a nos consagrar pessoalmente a Maria. Além dele ter recomendado muito que a fizéssemos, a própria Virgem, nas aparições de Fátima, que começaram em 13 de Maio de 1917, nos pede que nos consagremos ao seu Imaculado Coração. O Papa Leão XIII, que foi consagrado a Virgem Maria, para incentivar a consagração a Maria, concedeu indulgência plenária a quem fizer ou renovar a consagração, segundo o método do Tratado de São Luís, no dia Imaculada Conceição, dia 8 de Dezembro, ou no dia do Santo, 28 de Abril. Esta concessão, que aconteceu pouco antes do início das aparições, seja para nós incentivo a nos unirmos mais intimamente a Mãe de Deus e poder dizer “totus tuus Mariae” (sou todo teu Maria), para aproximar-nos mais de Seu Filho Jesus Cristo e da Sua santíssima vontade.







Texto extraído do livro “Cruzando o Limiar da Esperança”, do Beato Papa João Paulo II

Pergunta:
Numa perspectiva cristã, falar de maternidade leva espontaneamente a falar da Mãe por excelência, a de Jesus. Totus Tuus, Todo de Maria, é o lema escolhido pelo seu Pontificado. O relançamento da teologia e da devoção marianas – de resto, em fiel continuidade com a ininterrupta tradição católica – é um outro caráter distintivo do ensinamento e da ação de João Paulo II. Por outro lado, hoje se multiplicam vozes e notícias de aparições misteriosas e mensagens da Virgem; multidões de peregrinos põem-se de novo a caminho, como em outros séculos. Santidade, o que pode dizer-nos a respeito?

Resposta do Papa João Paulo II:

Totus Tuus. Esta fórmula não tem apenas um caráter pietista, não é uma simples expressão de devoção: é algo mais. A orientação para semelhante devoção se afirmou em mim no período em que, durante a Segunda Guerra Mundial, trabalhava como operário numa fábrica. Num primeiro momento, achei que devia afastar-me da devoção Mariana da infância, em favor do cristocentrismo. Graças a São Luiz , compreendi que a verdadeira devoção à Mãe de Deus é, ao contrário, cristocêntrica; aliás, é radicada muito profundamente no Mistério trinitário de Deus, e nos referentes à Encarnação e à Redenção.

Desse modo, portanto, redescobri com consciência a nova piedade Mariana, e esta forma madura de devoção à Mãe de Deus me acompanhou ao longo dos anos: seus frutos são a Redemptoris Mater e a Mulieris dignitatem.

No que diz respeito à devoção Mariana, cada um de nós deve ter claro que não se trata só de uma necessidade do coração, de uma inclinação sentimental, mas que corresponde também à verdade objetiva sobre a Mãe de Deus. Maria é a nova Eva, que Deus põe diante do novo Adão-Cristo, a começar pela Anunciação, através da noite do nascimento em Belém, o convite nupcial em Caná da Galiléia, a cruz sobre o Gólgota, até o cenáculo do Pentecostes, a Mãe de Cristo Redentor é a Mãe da Igreja.

O Concílio Vaticano II dá um passo de gigante tanto na doutrina quanto na devoção marianas. Não é possível agora reproduzir todo o maravilhoso capítulo VII da Lumen gentium, mas precisaria fazê-lo. Quando participei do Concílio, reconheci-me totalmente neste capítulo, onde encontrei todas as minhas experiências anteriores, desde os anos da adolescência, bem como aquela peculiar ligação que me une à Mãe de Deus em formas sempre novas.

A primeira forma, a mais antiga, relaciona-se com os momentos de pausa, na infância, diante da imagem de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, na igreja paroquial de Wadowice, e está ligada à tradição do escapulário carmelita, particularmente eloquente e rica de simbolismo, que conheci desde a juventude, através do convento dos carmelitas “sobre a colina”, em minha cidade natal. Está ligada, além disso, à tradição dos peregrinos ao santuário de Kalwaria Zebrzydowska, um daqueles lugares que atraem multidões de peregrinos, de modo especial do Sul da Polônia e de além dos Cárpatos. Este santuário regional tem uma peculiaridade de ser não só mariano, mas também profundamente cristocêntrico. E os romeiros que lá chegam, durante sua estada junto ao santuário de Kalwaria, percorrem antes de tudo as “veredas”, que são uma Via crucis, em que o ser humano encontra o próprio lugar perto de Cristo através de Maria. A Crucificação é também o ponto topograficamente mais alto, que domina todos os arredores do santuário. A solene procissão mariana que lá se realiza antes da festa da Assunção, nada mais é do que a expressão da fé do povo cristão na participação particular da Mãe de Deus na ressurreição e na glória do próprio Filho.

Desde os primeiríssimos anos, minha devoção Mariana relacionava-se estreitamente à dimensão cristológica. O que me conduzia nesta direção era precisamente o santuário de Kalwaria.

Um capítulo à parte é Jasna Góra, com seu ícone de Nossa Senhora Preta. A Virgem de Jasna Góra há séculos é venerada como Rainha da Polônia. Este é o santuário de toda a nação. Junto de sua Senhora e Rainha, a nação polonesa durante séculos procurou, e continua procurando, sustentação e força para o renascimento espiritual. Jasna Gora é o lugar de uma particular evangelização. Os grandes eventos da vida da Polônia são sempre de algum modo ligados a este lugar: tanto a história antiga da minha nação, quanto a contemporânea, encontram o ponto de sua mais intensa concentração exatamente lá, na colina de Jasna Gora. 

Tudo o que disse, acredito que explique suficientemente a devoção Mariana do Papa atual e, sobretudo, sua atitude de total entrega a Maria, aquele Totus Tuus.

No que se refere, pois, àquelas “aparições”, àquelas “mensagens” a que aludi, proponho-me a dizer alguma coisa mais adiante nesta nossa conversação.”