sábado, 29 de dezembro de 2012

MONTFORT: CAVALEIRO DE MARIA IMACULADA


Quem reflete em tudo o que Montfort realizou nos poucos anos de sua vida sacerdotal, olha para ele como para um gigante entre os santos. E, no entanto, vale também para ele o que escreve dos servos de Maria, em sua obra-prima: O Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem: “Se eles fazem alguma coisa exteriormente grande na aparência, levam muito mais em consideração as que fazem interiormente, dentro de si mesmos, em companhia de Nossa Senhora”. 

Como já observamos, Montfort manifestou-se, desde a mais tenra juventude, um filho modelar de Maria. Essa devoção cresceu com os anos. Amou e serviu Nossa Senhora com toda a impetuosidade de seu grande coração. As irmãs da Cruz de Saint Brieuc assim se exprimem: “Ele tinha uma devoção tão grande a Nossa Senhora que nós considerávamos com que estando no lugar de sua paixão dominante”. Resumindo, Montfort se situou entre os mais eminentes servos e apóstolos de Maria que o Mundo conheceu.

Vivia em Maria. Só assim se pode explicar que Montfort não tenha sucumbido nas terríveis provações que encheram sua existência. É o segredo de sua felicidade no meio de todas as contrariedades. “Senhor Jesus, exclama em seu “Tratado”, como são amáveis vossos tabernáculos! O pássaro encontrou uma casa para si, e a andorinha um ninho para seus filhotes. Oh! Como é feliz o homem que mora na casa de Maria, onde fostes o primeiro a fazer vossa morada”. 

E Maria vivia nele. Confessava ele um dia, ao Pe. Blain, que Deus lhe tinha concedido uma graça muito especial: a presença de Jesus e de Maria no mais íntimo de sua alma. E a outra pessoa: que Maria lhe estava tão profundamente unida que não podia mover-se nem agir “senão nela, por ele e para ela”. 

Seu conhecimento de Maria e seu amor por Ela se avivaram ainda mais pelas numerosas aparições com que Nossa Senhora o honrou. 

Em La-Garnache, um coroinha vai chamá-lo, e não há resposta! Voltando, o menino conta que Montfort conversava com “uma bela Senhora branca que estava no ar”. 

Num outro dia, Montfort se atrasa para a missa. Mandam um menino bater à porta de seu quarto. Mais uma vez não há resposta. Olhando por uma fresta da porta, o menino vê uma senhora de branco, irradiando luz, elevada acima do solo e conversando com o missionário. Quando Montfort entra enfim na sacristia, o menino o acompanha com os olhos cheios de admiração. O homem de Deus percebe e, tendo sabido a causa, diz-lhe: “Muito bem, és feliz, tens o coração puro”. Depois, traçando em sua testa o sinal da cruz, acrescenta: “Um dia irás ao céu”. O menino levou uma vida angélica, e morreu pouco depois. 

O fato seguinte mostra a santa familiaridade que marcava as relações entre Montfort e Maria. Morreu o jumento que o acompanhava, e que carregava os estandartes, quadros e imagens de que o homem de Deus se servia nas missões. Ele compra outro por 33 escudos. Apresentando-se um pouco mais tarde o comerciante para buscar seu dinheiro, encontra o missionário em conversação com uma senhora, aureolada de luz. Retira-se e volta para casa. No dia seguinte, seu cliente lhe explica que era Nossa Senhora que ele tinha visto. O homem de Deus acrescenta que havia comprado o jumento caro demais, pois a Virgem só lhe dera 30 escudos. Inútil dizer que o camponês tratou de não regatear com Maria Santíssima! 

O amor de Montfort por Maria se manifestava de todas as maneiras. Trazia sempre consigo uma pequenina imagem da Virgem, a qual no momento de sua morte ainda apertará entre as mãos. É com predileção que chama Maria “sua boa Mãe”, e quando pronuncia estas palavras, fá-lo com tanta ternura que involuntariamente as pessoas ficam emocionadas. Numerosos são os cânticos que, nos momentos de lazer, compôs em honra de Maria. Esses poemas não têm todos o mesmo valor literário, mas todos, sem exceção, permanecem monumentos imperecíveis de seu culto por Maria, porque Montfort neles pôs toda sua alma trasbordante de amor por ela. 

As festas de Maria Santíssima são para ele verdadeiras festas porque são dias especialmente consagrados a sua Mãe. Por nada deste mundo ele deixaria passar esses dias sem celebrar a missa. 

Dois anos antes de sua morte, vai à diocese de Avranches no dia da Assunção. Pede ao bispo autorização para celebrar a missa na Catedral e pregar na diocese. “Não só não vos permito pregar em minha diocese, responde-lhe o prelado, mas vos proíbo mesmo de aqui celebrar a missa; e o maior prazer que podeis fazer é retirar-vos o mais depressa possível”. Montfort baixa a cabeça e vai-se embora. Fez nesse dia o que nunca havia feito em sua vida. Pede um carro e antes do meio-dia chega à diocese de Coutances. O pároco não tem grande confiança nesse estrangeiro, mas ele mostra tão grande espírito de fé, um amor tão ardente por Maria, que o sacerdote se tranqüiliza e lhe permite oferecer o Santo Sacrifício. 

Durante toda a vida ele mostra predileção pelos lugares de peregrinação de Nossa Senhora. Quando vai a Roma, visita a pequena Casa de Loreto. Fica como que em êxtase diante dessas paredes que abrigaram Maria quando o anjo lhe anunciou a feliz nova, e onde ela envolveu o Filho de Deus com a natureza humana. Cada dia, durante sua missa na Casa Santa, via-se sua cabeça cercada de uma auréola. Decorreram quinze dias antes que conseguisse decidir-se a prosseguir viagem para a Cidade Eterna. 

Montfort nasceu orador. O Pe. Vicente, Capuchinho, que trabalhou algum tempo com ele, coloca-o entre os “maiores pregadores do século”. Ele narra: “Parecia-me ver um anjo ao ouvir falar o Pe. de Montfort: sua fisionomia brilhava e irradiava seu amor ardente; a língua não era mais do que o eco daquilo que o Espírito Santo lhe dizia ao coração; a voz, os gestos, o exterior manifestavam a presença de Deus e sua união com ele e diziam que o próprio Jesus Cristo falava por sua boca”. 

Esta eloquência atingia seu apogeu quando Montfort falava de Nossa Senhora. Um dos temas preferidos de suas pregações mariais era a devoção ao rosário. O Provincial dos Padres Dominicanos escreve a seu entrar na Confraria do Rosário “uma infinidade de pessoas”. 

Montfort estava sempre munido de um grande terço, e era muitas vezes chamado “o Padre do terço grande”. Quando ele pregava uma missão em alguma paróquia, seu primeiro cuidado era suspender na igreja 15 estandartes, representando os mistérios do rosário. Servia-se deles para ensinar a devoção ao rosário. Todos os dias, em três momentos diferentes, fazia recitarem-no. Nas paróquias onde trabalhara, legava, como uma relíquia preciosa, a devoção ao terço. 

O fato seguinte mostra qual era sua estima por essa prática. Certo dia teve que passar pela paróquia de Vallet, onde pregara uma missão de cinco anos antes. Pediram-lhe que se detivesse na localidade. “De modo algum, replica o homem de Deus; eles abandonaram meu rosário”. 

Montfort atribuía a maior parte dos admiráveis frutos de suas missões ao rosário. “Nunca disse ele, um pecador me resistiu, uma vez que o tenha conquistado com o rosário”. 

Nossa Senhora gostava de recompensar de vez em quando, de uma maneira extraordinária, seu amor por essa oração. O bispo de La Rochelle tinha pedido ao missionário que fosse pregar uma missão na ilha d’Yeu. Quando o homem de Deus e seus companheiros quiseram embarcar, vieram adverti-los de que um grande perigo os ameaçava. Os calvinistas da ilha haviam subornado piratas para que atacassem o missionário. Esse não quis absolutamente levar em conta o aviso e queria partir de qualquer modo, mas seus companheiros se recusaram. Foi preciso esperar muito tempo uma nova ocasião. Nesse interim, um barqueiro se oferece para levá-los à ilha. Quando chegam em alto-mar, percebem dois navios de piratas que se dirigem diretamente a eles. “Estamos perdidos”, gritam todos juntos. Só Montfort fica tranqüilo e entoa um dos seus cânticos. Ninguém tem coragem de cantar com ele. “Pois bem, insiste o missionário, já que não podem cantar, vamos recitar o rosário”. Dizem um primeiro terço. Voltando-se para seus companheiros, Montfort lhe diz num tom calmo: “Não temam, meus amigos, nossa boa Mãe, a Virgem Santíssima, nos atendeu; estamos fora de perigo!” “Fora de perigo!”, replicam os marinheiros, “mas o inimigo está bem perto!” O grande servo de Maria, porém, está certo do que diz. “Confiança! O vento vai mudar!” Mal acaba de pronunciar essas palavras e os navios dos piratas são levados pelo vento e se desviam rapidamente. O rosário os tinha salvo! 

Eis agora um prodígio na ordem da graça. Pelo fim de sua vida, Montfort embarca um dia para Ruão. Seus companheiros de viagem não são absolutamente edificantes. Para matar o tempo, têm conversas equívocas e cantam músicas inconvenientes. Finalmente, o homem de Deus não suporta mais. Prende o crucifixo em seu bastão de viagem, ajoelha-se e exclama: “Que todos os que amam Jesus Cristo o adorem comigo!” Respondem-lhe com zombarias. “Rezemos o rosário”, diz Montfort ao irmão que o acompanha. E, sob uma avalanche de chacotas, os dois homens, cabeça descoberta, dizem o terço. Montfort se levanta então e convida os assistentes a rezar com ele. Ninguém se move, mas as zombarias se tornam mais raras, quando o missionário começa um segundo terço. Ao terceiro, todos estão de joelhos. Dóceis como crianças, repetem aquelas palavras, há tanto tempo esquecidas. Tais são as maravilhas que Montfort obtinha pelo rosário!