Era na cidade de Paris que a devoção de Grignion devia tomar pleno
desenvolvimento e receber forma definitiva: a Santa Escravidão ou dependência
total da Mãe de Jesus.
Este título não era uma novidade. Antes de Montfort, muitos santos o
conheciam, praticavam, e ensinavam.
Montfort é herdeiro do Cardeal de Bérulle, de Condren, Olier, Eudes,
Poiré, Boudon, pois estes todos ensinavam a prática da Santa Escravidão.
Todos estes homens, santos e sábios, haviam adotado a palavra do
Evangelho: "Formam servi accipiens..." – cf. Mt 20, 28; e as de São
Bernardo: "Eu sou um vil escravo, para quem é suma honra ser o servo do
Filho e da Mãe"; e estas de Santo Ildelfonso: "Para ser o devoto
escravo do Filho, quero ser o escravo fiel da Mãe".
Montfort foi o último discípulo desta escola de amor ardente à Mãe de
Jesus. Recolheu esta sagrada herança, para passar à posteridade através do
nevoeiro do jansenismo, que ameaçava tudo invadir.
Como Ele próprio o disse, leu as obras daqueles grandes homens; e
pode-se afirmar mesmo, que todos os livros referentes a devoção a Maria
Santíssima.
Conversou familiarmente com todos os grandes santos e sábios da época.
Este estudo e estas relações demonstraram-lhe que não havia outra
devoção à Maria comparável à Santa Escravidão; que não havia: "nenhuma
devoção que exigisse maiores sacrifícios para Deus, mais renúncia de si mesmo,
e unisse as almas mais intimamente a Nosso Senhor; nenhuma, enfim, que fosse
mais gloriosa para Deus, mais santificante para a alma, e mais útil ao próximo"
(Tratado da Verdadeira Devoção).
Entretanto, a doutrina daqueles autores precisava ser simplificada, e ser
apresentada em fórmulas claras e certas, para ficar ao alcance de todos.
Dos diversos elementos colhidos, Montfort eliminou o que era demais
abstrato ou indeciso. Escolheu o que lhe servia, e, num estilo alerta, nervoso
e colorido, formou o conjunto completo e homogêneo da devoção, o que constitui
o seu "Tratado".
Deste modo, a Santa Escravidão deixou de ser uma simples Consagração,
mais ou menos exterior, para tornar-se uma devoção perfeita, sob uma forma
admirável, que aperfeiçoa e transforma as almas. Tornou-se verdadeira escola
espiritual de santidade.