Trata-se
do amor de Deus. Como este se orienta para a Mãe amável e faz com que a alma
viva simultaneamente em Deus e em Maria; como a alma se comporta a respeito da
Mãe de Deus, mesmo além de uma graça especial do espírito.
Quando este afeto terníssimo filial e cândido
do coração para com a nossa terna Mãe se move na alma – sustentado pelo
Espírito de Deus ou do Amor Divino – então tudo flui espontaneamente e até
mesmo a natureza de homem parece transformada. Assim, ela se reveste de
inocência, ternura, simplicidade e outras qualidades e inclinações de uma
criança em relação à sua querida mãe. A alma se comporta a respeito de Maria, com
inocência e candura.
Então,
“o amor de Deus é derramado no seu coração pela virtude do Espírito Santo, que
lhe foi dado.” (Rm 5,5) E como é aquele mesmo espírito que move, dirige e anima
a alma é o principal ator neste jogo de amor, assim também esta relação
inocente e filial da alma com a Mãe amável não é outra coisa senão um
transbordar do Divino Amor que se move na alma e a conduz suavemente à terna
Mãe.
Ao
mesmo tempo este Divino Amor transbordante lança a alma de Maria Santíssima,
com grande mestria e com a mesma ternura amorosa. Assim a alma é arrastada pela
Virgem Maria até o oceano de Deus, sem necessidade de intermediários e sem
impedimento algum ou confusão do espírito. E este amor para com Deus e para com
Maria Imaculada parece um só e mês o amor, como se fosse uma espécie de
contínuo fluxo e refluxo divino, enquanto a alma, junto com a amável Mãe,
descansa amorosa e calmamente em Deus.
Ou
melhor, dizendo: é “um e o mesmo Espírito” que opera e realiza
este afeto de amor para com Deus e Maria Santíssima “como e quando Ele quiser”
(1 Cor 12,11); enchendo-a de amor e transformando-a algumas vezes em esposa
amantíssima, reclinada nos braços do seu Amado, e outras
vezes em cândida criança no colo
desta
Mãe dulcíssima. Uma vez passado este transbordamento e operação do Espírito
Santo ou do Amor Divino, o filho devoto de Maria fica com uma saudosa e amorosa
recordação d’Ela e com uma inclinação amorosa para com a Mãe.
Entretanto, não
com tanto candor e ternura como antes, porém com um afeto mais racional, maduro
e varonil. Sim, mesmo que a alma quisesse e pretendesse, não poderia mais
comportar-se e agir de modo tão terno e amoroso como antes. Se o tentasse,
pareceria artificial, enquanto que anteriormente o comportamento dela foi
natural e espontâneo sem fingimento algum, porque foi movido pelo Espírito de
Deus, que mora nela e opera de modo diverso segundo sua santa vontade, quando e
como quiser (cf. 1Cor 12,11).Dir-se-ia que há duas pessoas numa só alma, que
alternativamente operam o que a cada uma corresponde sem artificialismo ou
simulação, mas com toda a naturalidade, como se da mesma natureza brotasse ora
uma coisa, ora outra.
Assim, constantemente a alma fica admirada consigo mesma
ao perceber e surpreender em si, num tempo tão curto, disposições e inclinações
tão diferentes
e contrárias, como se não fosse uma só e idêntica pessoa. Para que este jogo de
amor não fique perturbado, a alma deve sempre prestar atenção às inclinações
interiores e espontâneas e segui-las com toda a simplicidade sem forçar demais
o seu espírito.
Espiritualidade Carmelitana.