segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

O AMOR PARA COM DEUS, COMO PRINCÍPIO DA VIDA MARIANA


Trata-se do amor de Deus. Como este se orienta para a Mãe amável e faz com que a alma viva simultaneamente em Deus e em Maria; como a alma se comporta a respeito da Mãe de Deus, mesmo além de uma graça especial do espírito.

Quando este afeto terníssimo filial e cândido do coração para com a nossa terna Mãe se move na alma – sustentado pelo Espírito de Deus ou do Amor Divino – então tudo flui espontaneamente e até mesmo a natureza de homem parece transformada. Assim, ela se reveste de inocência, ternura, simplicidade e outras qualidades e inclinações de uma criança em relação à sua querida mãe. A alma se comporta a respeito de Maria,  com  inocência  e  candura.


Então, “o amor de Deus é derramado no seu coração pela virtude do Espírito Santo, que lhe foi dado.” (Rm 5,5) E como é aquele mesmo espírito que move, dirige e anima a alma é o principal ator neste jogo de amor, assim também esta relação inocente e filial da alma com a Mãe amável não é outra coisa senão um transbordar do Divino Amor que se move na alma e a conduz suavemente à terna Mãe.

Ao mesmo tempo este Divino Amor transbordante lança a alma de Maria Santíssima, com grande mestria e com a mesma ternura amorosa. Assim a alma é arrastada pela Virgem Maria até o oceano de Deus, sem necessidade de intermediários e sem impedimento algum ou confusão do espírito. E este amor para com Deus e para com Maria Imaculada parece um só e mês o amor, como se fosse uma espécie de contínuo fluxo e refluxo divino, enquanto a alma, junto com a amável Mãe, descansa amorosa e calmamente em Deus.

Ou melhor, dizendo: é “um e o mesmo Espírito” que opera e realiza este afeto de amor para com Deus e Maria Santíssima “como e quando Ele quiser” (1 Cor 12,11); enchendo-a de amor e transformando-a algumas vezes em esposa amantíssima, reclinada nos braços do seu Amado, e    outras    vezes    em    cândida criança no colo desta Mãe dulcíssima. Uma vez passado este transbordamento e operação do Espírito Santo ou do Amor Divino, o filho devoto de Maria fica com uma saudosa e amorosa recordação d’Ela e com uma inclinação amorosa para com a Mãe.

Entretanto, não com tanto candor e ternura como antes, porém com um afeto mais racional, maduro e varonil. Sim, mesmo que a alma quisesse e pretendesse, não poderia mais comportar-se e agir de modo tão terno e amoroso como antes. Se o tentasse, pareceria artificial, enquanto que anteriormente o comportamento dela foi natural e espontâneo sem fingimento algum, porque foi movido pelo Espírito de Deus, que mora nela e opera de modo diverso segundo sua santa vontade, quando e como quiser (cf. 1Cor 12,11).Dir-se-ia que há duas pessoas numa só alma, que alternativamente operam o que a cada uma corresponde sem artificialismo ou simulação, mas com toda a naturalidade, como se da mesma natureza brotasse ora uma coisa, ora outra. 

Assim, constantemente a alma fica admirada consigo mesma ao perceber e surpreender em si, num tempo tão curto, disposições e inclinações tão  diferentes e contrárias, como se não fosse uma só e idêntica pessoa. Para que este jogo de amor não fique perturbado, a alma deve sempre prestar atenção às inclinações interiores e espontâneas e segui-las com toda a simplicidade sem forçar demais o seu espírito.

Espiritualidade Carmelitana.