A devoção ensinada por São Luís Maria é a consagração total,
do corpo e da alma, a Jesus Cristo pelas mãos da Virgem Maria.
Segundo São Luís Maria Grignion de Montfort, no “Tratado da
Verdadeira Devoção a Santíssima Virgem“, quando consagramos a Maria o nosso
corpo e a nossa alma, e tudo o que deles depende, ela faz aquilo que fez Rebeca
aos dois cabritos que Jacó lhe trouxe (cf. Gn 27, 14): Nossa Senhora sacrifica
o corpo e a alma, fazendo-os morrer para a vida do velho Adão; ela tira deles a
sua pele natural, que são as tendências da natureza, o amor próprio, a vontade
própria e todo o apego às criaturas; ela purifica-os de suas manchas, impurezas
e pecados; ela prepara-os ao gosto de Deus e para a Sua maior glória. “Como só
Ela conhece perfeitamente o gosto divino e a maior glória do Altíssimo, também
só Ela pode aprontar e preparar, sem se enganar, o nosso corpo e a nossa alma
segundo esse gosto infinitamente elevado e essa glória infinitamente escondida
e eterna” (TVD 205).
Nossa Senhora, esta boa Mãe, tendo recebido a oferta
perfeita que lhe fizemos, de nós mesmos e dos nossos méritos e satisfações, por
meio da consagração total a Jesus por Maria, e tendo-nos despojado das nossas
vestes velhas, prepara-nos e torna-nos dignos de comparecer diante de Deus Pai.
Ela nos reveste com as roupas apropriadas, novas, preciosas e perfumadas de
Esaú, o primogênito, isto é, de seu Filho Jesus Cristo. Ela guarda estas vestes
em sua casa, as tem em seu poder, sendo a tesoureira e dispensadora universal
dos méritos e das virtudes de Jesus Cristo, seu Filho. Por isso, “Maria pode
dá-los e comunicá-los a quem quer, quando quer, como quer e na medida que quer”
(TVD 206; cf. TVD 25 e 141).
A Virgem Maria envolve as mãos e o pescoço de seus servos
com a pele dos cabritos mortos e esfolados (cf. Gn 27, 16), isto é, adorna-nos
com os méritos e o valor das nossas ações. Ela mata e mortifica o que há de
impuro e imperfeito em nós, mas não perde nem desfaz todo o bem que a graça
operou em nós. Ao contrário, ela guarda e aumenta este bem, para fazer dele o
ornamento e a força de nosso pescoço e de nossas mãos, ou seja, para nos dar a
força para levar o jugo do Senhor, que está sobre o pescoço, e para operarmos
grandes coisas para glória de Deus e a salvação de nossos irmãos.
Maria Santíssima dá um novo perfume e uma nova graça a essas
vestes e ornamentos, comunicando-nos as suas próprias vestes, que são os seus
méritos e virtudes, que Ela nos deixou como testamento ao morrer (cf. TVD 206).
Deste modo, todos os seus fiéis servos e escravos estão duplamente vestidos com
vestes de seu Filho (cf. Pr 31, 21). Por isso, não precisamos temer o frio de
Jesus Cristo, que os réprobos, inteiramente nus e desprovidos dos merecimentos
de Jesus Cristo e da Santíssima Virgem, não poderão suportar (cf. TVD 206).
Nossa Mãe alcança para nós, seus consagrados por amor, a
bênção do Pai celeste, que não deveríamos receber, por não sermos os
primogênitos, como Esaú (cf. Gn 27, 1ss), mas apenas filhos adotivos. Com estas
vestes novas, muito preciosas e perfumadas, com o corpo e a alma bem
preparados, aproximamo-nos com confiança do leito de repouso do Pai celeste.
Ele nos entende e nos distingue pela voz de pecadores, apalpa-nos as mãos,
recobertas de peles, sente o aroma das vestes, come com prazer o que Maria, a
nossa Mãe, preparou. O Pai, reconhecendo em nós os méritos e o bom odor de seu
Filho Jesus Cristo e de sua Santa Mãe, nos dá uma dupla bênção (cf. Gn 27, 28).
Deus Pai nos dá a bênção do orvalho do Céu (cf. Gn 27, 28),
que é a graça divina, semente da glória. Deus também nos dá a bênção da
fecundidade da terra, isto é, nos dá o pão quotidiano e a abundância dos bens
deste mundo. Deus não se contenta em abençoar a nós e os nossos bens, mas
estende a sua bênção a quantos nos abençoarem, e a sua maldição a todos os que
nos amaldiçoarem e perseguirem (cf. Gn 27, 29). Além disso, Ele nos constitui
senhores dos nossos irmãos, os réprobos, embora esta primazia nem sempre se
manifeste neste mundo, que passa num momento (cf. 1 Cor 7, 31). Neste mundo,
são muitas vezes os réprobos que dominam (cf. Sl 93, 3-4; 36, 35).
Porém, essa
primazia não deixa de ser verdadeira e aparecerá manifestamente no outro mundo,
na eternidade. No Reino dos Céus, os justos “dominarão e imperarão sobre as
nações” (Sb 3, 8).
Fonte: Blog Todo de Maria