quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Reflexões de São João Eudes sobre o Magnificat

“Eis aqui a escrava do Senhor”

"Quia respexit humilitatem ancillae suae"

Lançou os olhos sobre a humildade da sua serva: qual é essa humildade de que fala a Bem-aventurada Virgem? A esse respeito não são unânimes os pensamentos dos santos Doutores. Dizem alguns que, entre todas as virtudes, a humildade é a única que não se contempla e não se conhece a si mesma; pois o que se julga humilde é soberbo. Razão pela qual, ao dizer a Bem-aventurada Virgem que Deus olhou a sua humildade, não se refere à virtude da humildade, mas à sua baixeza e abjeção.

“Há duas espécies de humildade, diz São Bernardo. A primeira é a filha de verdade, é fria e sem calor. A segunda é filha da caridade, e nos abrasa. A primeira consiste no conhecimento, e a segunda na afeição. Pela primeira, conhecemos que nada somos, e esse conhecimento, tomamo-lo de nós mesmo e de nossa própria miséria e enfermidade. Pela segunda, calcamos aos pés a glória do mundo, e aprendemo-la d’Aquele que se aniquilou a Si mesmo, e que fugiu quando O procuraram para elevá-lO à glória de realeza; e que, em vez de fugir, ofereceu-Se voluntariamente quando O procuram para crucificá-lO e mergulhá-lO em um abismo de opróbrios e ignomínias”.

Se perguntardes porque Deus considerou antes a humildade da Santíssima Virgem que a sua pureza e suas outras virtudes, se todas nEla se achavam em grau elevadíssimo, responder-vos-á S. Alberto Magno, com Santo Agostinho, que considerou antes a sua humildade, porque Lhe era mais agradável que sua pureza.

“A virgindade é muito louvável, diz São Bernardo, mas a humildade é necessária. Aquela é de conselho, esta de mandamento. Podeis ser salvo sem a virgindade, mas sem a humildade não há salvação. Sem a humildade de Maria, ouso dizer que não teria sido agradável a Deus a sua virgindade. Se Maria não fosse humilde, o Espírito Santo não teria decido a Ela; e se não houvesse descido a Ela, Ela não seria Mãe de Deus. Ela agradou a Deus pela virgindade, mas concebeu o Filho de deus pela humildade. Donde é necessário concluir que foi a humildade que tornou sua virgindade agradável à divina Majestade”.